segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Varrem as flores. As flores caem, eles varrem as flores! As flores, por acaso, sujam? As flores, por acaso, atrapalham os transeuntes, cheiram mal? atacam? Flores carnívoras, flores... Varridas, as flores parecem bolar tristes, até serem irremediavelmente recolhidas: pá. Uma beleza sequestrada, um absurdo silenciosamente gritante, e vice-versa, se elas pudessem gritar, pediriam ajuda como lindas jovens pedem quando são raptadas. Raptam lindas jovens com frequência ali, perto daquela árvore, as lindas jovens ainda mais indefesas que as lindas jovens, nem sequer gritam. É como se tudo tivesse mesmo que ser opaco, quando lhe roubam a cor assim. Porque não é necessário varrer as flores dali. E nem as flores lhes são necessárias. Então, o que não é necessário pode e deve ser removido, mesmo que não seja necessário fazê-lo, fazem funcionar assim. A pá e o desnecessário desprezo pelo desnecessário (; o fim da pá e a necessidade do desnecessário). As flores sequer podem deitar ali, descansar naquela grama, em paz, quando caem do céu (árvore), maduras e exuberantes. Sequer. Não se contentam em não admirá-las, ignorá-las – o que já as magoa bastante – mas não; não se contentam com a indiferença. Não as toleram. Precisam removê-las, escondê-las, mesmo destruí-las, para que ninguém lhes diga o quanto aquele cheiro vermelho borra o mundo pálido – quando eles ficariam com aquela cara meio cética, meio prática, de quem, na verdade, não entende, mas não sabem, e é por isso que não querem. Mais confortável é essa preguiça genocida que faz varrer, maldita preguiça genocida vassoura. Juntas naquela lata, elas conhecem o destino que arrastou suas antepassadas. O homem de azul – sabemos, ele não é o mentor de toda esta atrocidade –, seu instrumento fatal, a torre que nos recolhe, ninguém escapa – mentira, você sabe, algumas companheiras pegam carona no vento, jogam-se, pulam, viram cambalhotas no ar e conseguem fugir, delas não ouvimos mais falar, não se vê mais uma pétala: chega, você está falando demais.

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