terça-feira, 27 de março de 2012

Cada movimento
o desenho que a mão
fazia no ar

cada toque
cada olhar
um verso.

terça-feira, 20 de março de 2012

terça-feira, 13 de março de 2012

Oxe, patativa...

Eu sou de uma terra que o povo padece
Mas nunca esmorece, procura vencê,
Da terra adorada, que a bela cabôca
Com riso na bôca zomba no sofrê.

Não nego meu sangue, não nego meu nome,
Olho para fome e pergunto: o que há?
Eu sou brasilêro fio do Nordeste,
Sou Cabra da Peste, sou do Ceará.

Tem muita beleza minha boa terra,
Derne o vale à serra, da serra ao sertão.
Por ela eu me acabo, dou a prope vida,
É terra querida do meu coração.

Meu berço adorado tem bravo vaquêro
E tem jangadêro que domina o má.
Eu sou brasilêro fio do Nordeste,
Sou Cabra da Peste fio do Ceará.

Ceará valente que foi muito franco
Ao guerrêro branco Soares Moreno,
Terra estremecida, terra predileta
Do grande poeta Juvená Galeno.

Sou dos verde mare da cô da esperança,
Qui as água balança pra lá e pra cá.
Eu sou brasilêro fio do Nordeste,
Sou Cabra da Peste, sou do Ceará.

Ninguém me desmente, pois, é com certeza
Quem qué vê beleza vem ao Cariri,
Minha terra amada pissui mais ainda,
A muié mais linda que tem o Brasi.

Terra da jandaia, berço de Iracema,
Dona do poema de Zé de Alencá
Eu sou brasilêro fio do Nordeste,
Sou Cabra da Peste, sou do Ceará.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Veja o tamanho do meu passo

Três quadradinhos desse azulejo velho e fodido.
Isso quer dizer que
quatro
cinco
três e meio
quadradinhos
velhos fodidos
novos virgens

sábado, 3 de março de 2012

Deus escreve certo por linhas tortas.

Eu escrevo torto por linhas certas.
Nesse mundo, ele é muito pequeno, existe tudo. Cabe na palma da mão, em uma cama, numa floresta, e nele cabe tudo. É muito doloroso sair, nem sempre é tão fácil entrar; não é difícil entrar. Quando você sai, vem uma sensação estranha. Um pouco de dor de cabeça, uma tontura, uma confusão. Não se sabe bem onde se está. É preciso comer e dormir bastante fora dele para que se retorne ao que não é ele. Existe uma membrana, a membrana separa. É possível ficar preso na membrana, emaranhado, emembranado, aí fica tudo definitivamente muito confuso, a dor de cabeca, a fome, o sono e a sensação de inexistência como um todo se tornam ainda maiores. É lindo esse mundo. Como ele tem tudo, frequentemente é possível correr num campo bem grande, verde, de grama, cheio de pequenas montanhas, grandes, verdes, macias de deitar, com flores esporádicas de tão bonitas que são. É possível também, se essa for a vontade do habitante, apenas observar esse mundo de uma janela, colada a uma parede amarela-marrom, cor de madeira clara, como se se estivesse com a cabeça enfiada num quadro. Nesse mundo, não tem tempo, apesar de ter a surpresa com o dia que já nasce, com o canto das aves (tanto galos quanto passarinhos) e até comentários sobre as horas e os compromissos - vazios, pelo hábito de quem esquece que o tempo lá não existe. Nesse mundo, não existe fome, porque fome que não incomoda não é fome, mas existe todo o prazer em  preparar a comida e mais do que isso em comer. Existem beijos e abraços infinitos e eternos, que se tornam cada vez melhores, de um modo que os próprios habitantes costumam estranhar que aquilo tudo apenas melhore e que pareça agora que têm uma cola na boca e no corpo inteiro que é responsável por esse admirável fato. As músicas, mesmo as mais feias, são as mais bonitas, e as risadas estão sempre à beira de um colorido abismo, prontas a se lançarem umas contra as outras, entrelaçando-se num canto, num coro, numa canção. Os cheiros, sobretudo o do suor, alimentam os pulmões, são capazes de regenerá-los; os olhares flúem e, quando cruzados, um experimenta olhar com o olhar do outro, o outro faz o mesmo com o um que experimenta olhar com o olhar do outro: os olhares lá são crianças, voltam a ser o que são. Todos são jovens, principalmente os velhos. Todos são velhos, em especial os jovens. Todos são tudo, tanto quanto coisa nenhuma. A Lua sempre nunca esteve mais bela. Nesse mundo, onde não existe nada, além de nós dois.