segunda-feira, 27 de junho de 2011

O filho pedia à mãe, dizia que era dia de chocolate:

- Não, meu filho, não é, não. Pega aquele saco pra mim.

O filho insistia:

- Não, não vou comprar e ponto. Anda, me ajuda aqui.

O filho virou pra mãe, agora já se chorando inteiro:

- Ô besteira, só porque a Lua tá exaltada em Touro em quadratura com teu Marte natal, ô besteira, vâmo s'embora! ... peste pra dar trabalho...

sexta-feira, 24 de junho de 2011

zkljcvkzjhvkjhv

Fdvnksckbdc. O que significa isso? O que pode significar um conjunto aleatório de letras? O que sempre alguma coisa e qualquer coisa pode significar como por exemplo poder escrever sem olhar para o que escrevo a não ser para as letras e para os dedos se movimentando por sobre flutuantemente, o que significa isso também?, no fundo, tanto um como outro, como todos, podem ser traduzidos em um algo que você era, traduzidos em você, euohhsad,vnak sou eu próprio, eu agora já sou sd,jnvkfkbvkv vnxmx, é isso que sou, não passo disso, a não ser daqui a pouco quando serei xclkbxclvknbjv.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Galeano. Antiga, mas sempre.

O sistema que programa o computador que alarma o banqueiro que alerta o embaixador que janta com o general que ordena ao presidente que intima o ministro que ameaça o diretor-geral que humilha o gerente que grita com o chefe que pisa no empregado que despreza o operário que maltrata a mulher que bate no filho que chuta o cachorro.

sábado, 18 de junho de 2011

Começo destelhando, pra lhe tirar qualquer capacidade de reação; destelhando, mesmo que eu não acabe, o tempo (Cronos e o outro, que não é clima) acaba, com o serviço e com ela. Essa é a parte mais difícil, ter que subir, engatinhar por sobre, por sobre ela inteira, chega a causar certo remorso, suposto arrependimento antecipado, mas depois que se termina pode-se finalmente partir para arrancar todas as portas. Poucos conhecem o prazer de arrancar portas, só superável pelo prazer de janelas, arrancar janelas. A sensação de liberdade é infinita quando se completam esses trabalhos; depois que (primeiro, delicadamente) se desparafusa uma a uma as portas, eu prefiro fazer assim, desparafuso um a um, uma a uma, com toda a calma que costumo não ter, o que também demonstra o caráter terapêutico da atividade, e, quando estão todas já soltas, como frágeis seres que aguardam o abate ou crianças que aguardam os pais para buscá-las na escola, o que no fundo é a mesma coisa, quando isso, quando tudo está pronto, inclusive as janelas, apenas decepa-se uma a uma, uma a uma, uma a uma, aquele som majestoso irá ecoar por diversas vezes, como se o ouvido bebesse alguma coisa gostosa, gelada, líquida, é óbvio se se bebe, mas densa, líquida mas densa, recolhendo-se em seguida os cadáveres. É como uma limpeza. O ar circula, há uma plena comunhão com o entorno, sem aquelas bocas que fechavam e abriam quando se queria, não se pode ter determinadas opções, certas coisas precisam nos ser proibidas, assim nos proibimos de certas coisas. Nos proibimos, e não foi a primeira vez, de portas e janelas, para quê, para você se esconder no banheiro?, cague diante de nós. Não me venha com essa autonomia auto-preservativa autoautoauto, cagão, cague para todo mundo ver. O piso não consegue ser melhor do que as portas, muito menos do que as janelas, mas consegue ser melhor do que as telhas; a sensação é parecida, na verdade, mas como o trabalho é menor, torna-se mais prazeroso, torna-se ponto médio de prazer entre portas e telhas, as janelas são demais, não entram nessa comparação, seria uma enorme, enorme nem consegue qualificar o, tamanho nem consegue qualificar essa, injustiça nem consegue qualificar a, janela. Vejo aquelas pessoas dizerem que estão sem chão, estou sem chão, duvido que já tenham realmente sentido encravar no pé o espinho que fica embaixo do piso bonitinho de cerâmica que lhes são chão, duvido que já tenham sentido esse sangue que eu sinto escorrer agora, duvido, duvido delas. Não sabem o que perdem ao não encravarem essa estaca no meio de dois quadrados, aqui são tacos, marrons com traços amarelos, que me lembram aquela avó; não sabem, encravo, firme; marreta, até que o buraco aberto seja enorme e horrível o suficiente – para abrir a terra e para ninguém mais usar esse taco horrível, antes marrom e amarelo e bonito; é quando eu sinto a terra respirar, ela bafora no meu pé e é quando lateja a raiva ainda maior, sim, ela consegue, do próximo taco imundo que devo marretar e destruir, raiva que às vezes me faz entrar um pedaço de taco no olho, e eu entendo a sua vingança e não repreendo ou tenho dó, simplesmente entendo e, em respeito, continuo com toda a agressividade para que se intensifique e se torne mais quente e molhado o bafo de terra no pé; faço isso por respeito, porque sempre julguei que, quando se respeita o inimigo, utilizam-se contra ele todas as forças; do contrário, não. Chego a pensar que talvez o piso me ofereça mais prazer do que portas, mas não chego a pensar nas janelas, já nelas não penso, seria o que eu já disse que seria, aquela coisa sem nome mas que eu sinto, penso, acho, que eu sei que sei e não preciso provar pra ninguém através dessa oralidade estúpida, através da verbalização que quer prestar contas, eu só presto contas a mim e ao bafo da terra porque ele me agrada cada vez mais, chega a fazer cócegas, chega a fazer carinho, chega a; quando acabo, quando acabo finalmente os tacos, gosto de observar como fica aquilo tudo, aquele todo, um enorme pulmão desamordaçado por mim, pelo que encravo e pelo que marreto, parece com minha origem, parece ser daí que venho para cá justamente com a missão, o intuito e o prazer de reencontrar, acredito profundamente nisso, que nossa missão é irônica e escrotamente sair da origem e sair do passado, para encontrar a origem e encontrar o passado, como se tivéssemos uma mãe que não conhecemos, vimos, mas éramos muito pequenos, é uma busca intuitiva, em algum lugar, como se o propósito de tudo fosse exatamente esse, essa a razão do jogo, encontrar essa maldita mãe que se perdeu de nós em algum lugar e agora vagar por isso tudo, caminhar nesses espinhos e nessa terra, destruir  telhas, tacos e janelas, só pra encontrar essa mulher louca que ousou nos parir. Você pode até achar isso canceriano demais, ou freudiano, demais, mas eu, eu vou concordar com você, realmente não há defesa diante disso, nem a pata de um caranguejo violento e vermelho protegendo seus filhos, nem isso, eu vou concordar com você e não posso deixar de estranhar esse aprendizado por assimilação que é meu e que não me deixa separar do que não é meu, enquanto entendo perfeitamente isso; a essa altura eu já tirei os móveis, os poucos, quase nenhum, móveis que estavam já na sala, concentrados, e a fogueira já vai alta. Esse momento é sempre importante, porque encontrar com o fogo em mim é sempre importante, é isso também uma mãe, uma carangueja, uma volta à origem, sobretudo quando estala e queima e eu sinto esse calor me encharcar o rosto como se o derretese ou derretesse o corpo d’uma vela, ou como se minha cabeça fosse a chama que arde e o resto do corpo, esse, sim, branco, fino, aos poucos e finalmente derretesse e na verdade a chama sempre pareceu com uma cabeça, um cabelo, dourado, ao vento, balançando, e os braços dentro daquele, daquela roupa toda branca, como uma roupa de padre, que tem nome mas eu esqueço, se eu esqueço tem nome?, um nome objetivo, para além de mim mesmo e da minha relação com essa roupa de padre?, tem nome:, roupa de padre, é tudo muito parecido com o Sol. Eu me sinto tomando banho de fogo e só uma sanidade abstrata e genérica ainda contraditoriamente mantida em meio a esse momento de existência quase plena é que me impede de não apenas sentir, mas de tomar, banho, mas se eu sinto tomar banho eu não tomo?, enfim, chega dessas auto-perguntas que após a primeira ou a segunda, dificilmente eu sei após qual, me deixam extremamente, nem enjoado nem enojado, repulsa, foi então que eu parti pro fim. Pras paredes. Talvez para a maioria das pessoas a parede fosse ou deveria ser ou e deveria ser o que há de mais divertido; exatamente talvez por isso eu não veja nenhuma graça. Sempre que são elas, tento observá-las, mas elas sempre me pareceram pouco vivas, só uma vez consegui ver numa delas, em várias delas naquele dia, uma expressividade, um sentimento, um coração palpitando, o que me motivou gravemente a marretá-la com toda a força que não costumo ter, desenvolver essa relação, batia batia como se não fosse possível cansar, e entendia aquilo perfeitamente, eu tenho entendido muitas coisas perfeitamente, eu entendo muitas coisas perfeitamente quando estou demolindo essa casa que sou eu, escombros.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Existem estrelas
que
só podem ser
vistas
quando
não se olha pra elas.

Isso obviamente quer dizer que

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Se alguém me perguntar porque eu não vou saber responder. E se alguém me perguntar porque eu não sei responder, eu não vou saber responder, o que é pior. É estranho isso, dizer que você não vai saber responder, se você já não sabe, né? Não é futuro, é presente. Também. É verdade. Eu também acho, penso nisso constantemente. Por que tu acha que é pior não saber responder porque tu não sabe responder do que simplesmente não saber responder? Hum, eu entendo porque tu fez essa pergunta. Por quê? Por que eu entendo? Não, porque eu fiz. E porque tu entende também. Tu fez a pergunta porque tu acha que essa resposta pode abrir uma série de feixes, ou então um leque, feixes é melhor, de coisas sobre mim e sobre a vida, e que daí a gente pode tirar uma conversa profunda, mesmo que nem venha a ser tão longa, sobre essa coisa de nós e a vida. Num foi? Foi. É como se não fosse uma pergunta que busca a sua própria resposta objetiva, ela é só uma pergunta-porta, ela serve pra acessar esse assunto que é tudo, ou o todo, o todo é melhor; não, não, é melhor tudo agora. eu também acho melhor tudo, nesse caso. E em que outros casos não seria? A coisa da dialética. Ah. Certo, não seria o termo mais apropriado. Urrum. ... Hum. Mas por que tu entende? Entendo o quê? Porque eu fiz a pergunta. Qual? Sobre ser pior não saber o porquê de não saber responder. Ah, porque eu sei. Tu entende porque tu sabe? É, como se fosse isso, eu entendo porque eu sei e sei porque eu vivo. Hum, gostei disso. Foi. Por quê? Não sei, soou bem, e tu falou de modo bem despretensiosamente natural, o olhar também foi bonito, bonito, não, assim, coerente, apropriado, igual ao tudo, igual ao todo; e foi bonito também, é verdade, o olhar também, tanto é que foi apropriado ao que tu falou que também foi bonito, então faz muito sentido que ele tenha sido bonito também, né. Sabe, eu tenho sentido dificuldade em viajar enquanto eu falo às vezes. É? Viajar enquanto se fala pra mim é aquilo de se sentir meio que passeando no pensamento enquanto a voz em formato de palavras vai saindo e aí as ideias vão vindo e tudo vai parecendo e sendo um jogo, esse jogo. Foi bom que eu fiz enquanto descrevia, foi forma e conteúdo. Foi isso que tu quer dizer? Foi, acho que foi... Hum. Só acha, né. É, mas deve ser. Urrum. ... E aí a dificuldade é que falar tem parecido mais um trabalho, um esforço, do que uma viagem, parece falta de energia. Tua glicose é baixa? Ninguém viaja sem glicose, não. Pode ser, mas é que o tempo de jejum antes do exame foi muito alto. E foi pouca a diferença. Hum, certo, mas por que é pior?, eu quero saber disso. O que é pior?, ter mais trabalho do que viagem? Porque você se sente esgotado, é como beber água de um rio seco e sentir só aquela pedra na boca cortando, não, porque é pior não saber responder porque não se sabe responder porque se alguém perguntar do que não saber responder porque se alguém perguntar. Ah, sim, achei que esse assunto já tinha morrido. Oxe, por quê?, se eu tava direto falando nisso. Porque eu achava que a porta já tinha se aberto, então num tinha mais porque ter essa pergunta-porta, ela pode ser uma pergunta-trinco também, né, porque ela ajuda a abrir a porta, você usa ela pra abrir, ela pode ser muitas coisas, essa pergunta-gênero-de-perguntas. Será que a gente podia agrupar as perguntas todas em famílias?, em grandes famílias de perguntas? Perguntas-trinco. Perguntas. Que mais. Perguntas-faca. É, perguntas-faca. Perguntas-... eu queria saber, mesmo a porta estando aberta. Então, ela não era só uma pergunta-porta-trinco-chave, ela era pra ti objetiva, era uma pergunta-faca? Não. Acho que era uma pergunta-porta-trinco-chave, mas também; também o quê? Também ela um objeto, não só meio, mas fim. Ela era as duas coisas. Huuum... ... ... ... É muito mais grave. Se você não sabe nem responder porque você não sabe responder, é sinal de autodesconhecimento profundo. Um autodesconhecimento profundo é coisa tão louca, né, porque se é profundo tende a ser conhecimento e não des-, é verdade. Você pode não saber responder algo e entender o seu processo de não-sabimento. E aí aquilo tá se processando em você, e você tem ideia de que aquilo ainda é verde, mas tem pista. Se você não sabe responder porque não sabe responder porquê, você parece não ter ideia nem de onde aquilo tá em você, o que pode ser muito bom. Mas num era pior? Era, já não é mais, é que eu tinha usado pior no sentido tradicional de que saber menos significa ser pior, e não é?, não, porque aquilo reflete uma condição sua e mostra uma ausência que vai ter que ser coisada, como é o nome, acho que desenvolvida. Mostra uma insuficiência e um pra-onde. Porque mesmo que você não saiba o porquê nem o porquê de não saber o porquê, e se sinta filhadaputamente perdido naquela hora, aquele momento vai abrir um processo em que aquilo vai aos poucos poder se revelar, foi a primeira pontada, a primeira visualização, uma espiada da porta que tá longe, mas agora tá. Antes nem. Eu não acho. Não acha a porta? Não, acho que não. Ah, sim. Tranquilo, é uma coisa que eu uso pra mim. Não, tu falando fica como se fosse uma formulação geral, uma coisa universal. Hum, é verdade. ... ... Diz como é pra ti, então. Não sei, não sei dizer. E acho que isso já é minha própria resposta. Meu irmão, isso foi muito profundo, tu num achou, ou sentiu? Hum, não sei, Minha nossa! ... ... Mudar dá trabalho, né, agora que tu colocou em cheque, eu fiquei repensando, e eu, eu achava que essa idéia nunca ia mudar em mim, ideia com acento ou sem acento, era como uma poltrona, com assento, então, onde eu tinha me acomodado, bem grande e gorda, com os pés pra cima, igual à que tinha na casa dos meus tios, no quarto deles onde tinha aquele cheiro de ar-condicionado com cigarro que eu gostava, ainda gosto dos embates do cigarro, com chuva, com ar-condicionado, com frio, o cigarro buscando equilibrar mesmo ele sendo tão des, o escroto. Preguiça de mudar é preguiça monstra, eu acho. Ter que se levantar dessa poltrona e desse cheiro de ar-condicionado com cigarro e desse desenho animado na tevê que é uma bosta mas o que vale é a poltrona, pra sair do quarto, da casa, da rua, do mundo e procurar outro mundo, construir ele inteiro, ser praticamente o chefe e o deus daquela gente toda nova que vai morar ali, é mais trabalho do que viagem. Tu não acha? Não sei. Por que agora tu só fala não sei? Não falo, foi só essa vez que eu fiz pra testar se tu ia dizer que era profundo de novo. PFFFFFFF. HAHAHA! Sacana. Eu sou. Às vezes. Às vezes. Faço. as vezes. De sacana. Eu gosto dessa relação com o “às vezes”, lembro quando pensei isso a primeira vez, tu tá dizendo isso só pra comprovar que tu já pensou isso um dia e que o que eu falei agora não foi propriamente uma invenção? Não, por quê? Pareceu. E acho que tu faz isso às vezes. Essas vezes. Talvez. Boa. Tu num acha toda conversa parecida com uma competição? Mais ou menos... Tu num acha tudo parecido com uma competição? Não, se eu achasse isso eu já tava doida. Hum. Tu acha, é? Mais ou menos. Mais ou menos o mundo todo uma competição? É. Minha nossa. E como tu sobrevive? Mudando. Mas no fundo é. Hum. Eu entendo isso astrologicamente em ti. Eu também. É. Eu também tenho minhas coisas, relaxe. Me mande relaxar, não, que é como se. Oi? Como se? Nada. ... ... Hum. 

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Dominó é o jogo formado por peças retangulares, dotadas normalmente de uma espessura que lhes dá a forma de paralelepípedo, em que uma das faces está marcada por pontos indicando valores numéricos. O termo é também usado para designar individualmente as peças que compôem este jogo. O nome provavelmente deriva da expressão latina "domino gratias" ("graças ao Senhor"), dita pelos padres europeus para assinalar a vitória em uma partida. Na área matemática das poliformas, um dominó é a figura retangular formada por dois quadrados congruentes colocados lado a lado.
Moço
almoço;
almoço
ao 
moço.
moço 
almoço
ao moço;
moço 
ao 
moço.


moço
al 
moço
aomoço;
moçoaomoço.


moçoalmoçoaomoço;
moçoaomoçoalmoço.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Acendo um cigarro na boca do fogão,

e a gente conversa.

Após a refeição,

ela está refeita.
Às vezes, aquela energia que vem na nossa direção, que se lança sobre a gente; e esbarra e que quando esbarra se espalha; que se espalha e que quando se espalha se funde; às vezes - é bom quando - ela é calafrio que rí.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

O que foi que tu viu quando olhou dentro de mim? Eu vi um lugar, um lugar com quatro pontas, quatro caminhos e um centro, eu vi. Vi uma encruzilhada. Olhou tu e aquele teu amigo, foi? Foi, olhou nós dois. Amos. Amos? Olhamos. Nós dois. Tu não tava, era a gente. Nós. Eu sei. foi entre aspas. Ah. Falei errado, né. Né. Né não, né é não é, isso é desconfirmar; eu gosto da palavra desmentir, dá uma idéia de desfazimento, de volta no tempo, parece com voltar uma fita. É verdade, eu nunca tinha pensado nisso... desculpa, eu não tava te escutando, tava ocupado tentando esvaziar minha cabeça, ocupado tentando desocupar, ela e eu. Ela quem? Cabeça. ah. Quer dizer que eu sou encruzilhada? Quero. An? Dizer, quero dizer, tu perguntou. É verdade. O que significa ser encruzilhada? Significa ter dificuldade em ver sentido nas coisas. É? Como tu sabe? Eu sei, já fui. Fosse? Fui, mas voltei. Achava que era do verbo ser. E era, foi uma ambiguidade. Calculada? Mais ou menos, eu não tinha calculado no começo, mas quando tu perguntou pra confirmar eu vi a chance e não desperdicei. Fizesse bem. Fiz, né. É. Aprendeu. A quê? A não desmentir o que eu digo, o outro diz, com né de volta, não se devolve, né, a menos que se queira desmentir, o outro ou eu. A mim. A ti não, a mim. A mim, não eu. Ah, tu me corrigiu de novo, foi? Foi. Que chato, né. Né. ... ... ... tenho mesmo.  O quê? Tido. Tem tido o quê? Outra coisa agora, não o que eu ia dizer, o que eu ia dizer eu não esqueço e vou lembrar depois, esse parênteses importa mais agora. Qual? Esqueci. ... ... Vontade de conversar metafisicamente descompromissado com alguém, como se fosse de mentira, conversar como se fosse. Faz falta mesmo, tu nunca mais teve, foi? Foi. Que chato... por quê? Acho que são as pessoas, calma, vou colocar meu óculos, acho que são as pessoas e sou eu, ando fechado. Até vinha conseguindo abrir, mas aí tudo já quis fechar de novo e eu não sei no que vai dar, vou fazer ficar aberto, mas o que eu ia falar mesmo, agora que eu já falei o esquecível, é que . Que foi? Esqueci, porque tu fala que foi rápido e bonitinho assim? Falo? Fala. Fala tu que foi agora pra eu ver como é que é. Que foi.  

domingo, 5 de junho de 2011

Não tenho mãe, nem pai, nem avô; nem avó. Filho, tio, primo, raiva, braço; baço, perna. Cabeça, tronco, casa, irmão, trabalho. Sem amigos, dentes, mulher, Deus, prato preferido, estômago ou colega. Não tenho geladeira, saudade, nem nome. Não tenho telefone, língua, nem sobrenome. Não tenho vizinho, não tenho fogão, não tenho mesa, livros, amuletos, calças, cinto. Nem sinto. Violão. Nem dedos nem ouvidos. Nem posição política. Nem posição. Terra. Água. Gosto por arte. Nem gosto. Nem boca. Nem cheiro. Nariz. Nem hora, nem tempo. Nem ponto, nem vírgula. Nem lugar, nem coração. Pleura. Nenhum pulmão. Ódio e pena também não. Pensava que tinha voz, ou cor. Se pensasse; nem vida. Morte. Nem nada; disso, nem isso; nem eu. Nem.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Um capuz.
Negro.
Couro
pesado.
Que, sutilmente,
desce e distribui
sobre
e
por si
fecha
aperta
e prende.
Só voando
para rasgar
dessufocar
nu.

Sob a Lua Nova,

Sol e Lua se encontram.
sempre.