quinta-feira, 12 de julho de 2012

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Uma lua nova com jeito de lua cheia.
nada é por acaso  nada é por acaso nada é por acaso nada é por acaso nada é por acaso nada é por acaso nada é por acaso nada é por acaso nada é por acaso nada é por acaso nada é por acaso nada é por acaso nada é por acaso nada é por acaso tudo é por acaso.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Continue não vivendo como se

Acho que seria adequado; é necessário, não falar, escrever um pouco sobre a quadratura entre Urano e Plutão, não apenas para que se registre algo de maneira incontestável antes do grau exato de choque; a primeira coisa que me ocorreu, o que me veio à cabeça foi "O dia em que Urano entrou em Escorpião", o que chama mais atenção é que o abalroamento vai ser frontal, ou melhor, entre corpos, eles, que se dirigem em sentidos opostos, o que não significa que será frontal, necessariamente - Plutão parece vir de ré, Urano vai dar um créu, não brinque com isso etc.

Algo como um choque entre o velho e o novo, 24 minutos, 8 graus para cada um. Três. Áries e Capricórnio, o Sol está em Câncer, também envolvido, vértice desse quadrado de três, três lados, manco, perneta, poderia, pode, poderá ser a síntese, a resultante, ou Libra, o outro cardinal, que se encontra solto: pode ser o alvo. Por volta das 11h - 24.06.12, o dobro e a metade, doze. Esqueça, viva sua vida normalmente, como se o choque não necessariamente frontal não fosse acontecer, logo em Áries, Capricórnio, Sol e Ascendente, logo Urano, e Plutão, logo num domingo de manhã, numa merda dum domingo de manhã em que nada grandioso a não ser corridas estúpidas de fórmula 1 deveria irromper, por que se chamam essas corridas de fórmula?; merda, e continue não aguentando mais viver a vida como se as coisas não acontecessem, como se nada acontecesse, continue não vivendo como se.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

"(...) E disto se segue: a faculdade da fantasia é o dom de interpolar no infinitamente pequeno, descobrir para cada intensidade, como extensiva, sua nova plenitude comprimida, em suma tomar cada imagem como se fosse a do leque fechado, que só no desdobramento toma fôlego (...)"


(W. Benjamin)

sábado, 9 de junho de 2012

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Estas plantas são recomendadas à proteção do público

Walter Benjamin.



"(...) Quem ama não se apega somente aos "defeitos" da amada, não somente aos tiques e fraquezas de uma mulher; a ele, rugas no rosto e manchas hepáticas, roupas gastas e um andar torto prendem muito mais duradoura e inexoravelmente que toda beleza. Há muito tempo se notou isso. E por quê? Se é verdadeira uma teoria que diz que a sensação não se aninha na cabeça, que não sentimos uma janela, uma nuvem, uma árvore no cérebro, mas sim naquele lugar onde as vemos, assim também, no olhar para a amada, estamos fora de nós. Aqui, porém, atormentadamente tensos e arrebatados. Ofuscada, a sensação esvoaça como um bando de pássaros no esplendor da mulher. E, assim como os pássaros buscam proteção nos folhosos esconderijos da árvore, refugiam-se as sensações nas sombrias rusgas, nos gestos desgraciosos e nas modestas máculas do corpo amado, onde se acocoram em segurança, no esconderijo. E nenhum passante adivinha que, exatamente aqui, no imperfeito, censurável, aninha-se a emoção amorosa, rápida como uma seta, do adorador."

quarta-feira, 23 de maio de 2012

O caminhão de lixo lhe persegue em marcha ré.
A diferença é que ele, mesmo que precariamente, tem onde descarregar essa merda toda.
Mas pra onde, qualquer lugar. Qualquer lugar, aqui é qualquer lugar, isso não é ir. É verdade, qualquer lugar que tenha água. Hum. Qualquer lugar que tenha muita água, onde não seja possível sentir isso. Isso não é querer sair daqui, é querer sair daí, é querer sair de si. É verdade. Isso deve querer dizer também que não deve ter muita água em mim, se eu quero sair de mim. Urrum.
Can
sa
do
mas
o
quis
mo.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

terça-feira, 27 de março de 2012

Cada movimento
o desenho que a mão
fazia no ar

cada toque
cada olhar
um verso.

terça-feira, 20 de março de 2012

terça-feira, 13 de março de 2012

Oxe, patativa...

Eu sou de uma terra que o povo padece
Mas nunca esmorece, procura vencê,
Da terra adorada, que a bela cabôca
Com riso na bôca zomba no sofrê.

Não nego meu sangue, não nego meu nome,
Olho para fome e pergunto: o que há?
Eu sou brasilêro fio do Nordeste,
Sou Cabra da Peste, sou do Ceará.

Tem muita beleza minha boa terra,
Derne o vale à serra, da serra ao sertão.
Por ela eu me acabo, dou a prope vida,
É terra querida do meu coração.

Meu berço adorado tem bravo vaquêro
E tem jangadêro que domina o má.
Eu sou brasilêro fio do Nordeste,
Sou Cabra da Peste fio do Ceará.

Ceará valente que foi muito franco
Ao guerrêro branco Soares Moreno,
Terra estremecida, terra predileta
Do grande poeta Juvená Galeno.

Sou dos verde mare da cô da esperança,
Qui as água balança pra lá e pra cá.
Eu sou brasilêro fio do Nordeste,
Sou Cabra da Peste, sou do Ceará.

Ninguém me desmente, pois, é com certeza
Quem qué vê beleza vem ao Cariri,
Minha terra amada pissui mais ainda,
A muié mais linda que tem o Brasi.

Terra da jandaia, berço de Iracema,
Dona do poema de Zé de Alencá
Eu sou brasilêro fio do Nordeste,
Sou Cabra da Peste, sou do Ceará.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Veja o tamanho do meu passo

Três quadradinhos desse azulejo velho e fodido.
Isso quer dizer que
quatro
cinco
três e meio
quadradinhos
velhos fodidos
novos virgens

sábado, 3 de março de 2012

Deus escreve certo por linhas tortas.

Eu escrevo torto por linhas certas.
Nesse mundo, ele é muito pequeno, existe tudo. Cabe na palma da mão, em uma cama, numa floresta, e nele cabe tudo. É muito doloroso sair, nem sempre é tão fácil entrar; não é difícil entrar. Quando você sai, vem uma sensação estranha. Um pouco de dor de cabeça, uma tontura, uma confusão. Não se sabe bem onde se está. É preciso comer e dormir bastante fora dele para que se retorne ao que não é ele. Existe uma membrana, a membrana separa. É possível ficar preso na membrana, emaranhado, emembranado, aí fica tudo definitivamente muito confuso, a dor de cabeca, a fome, o sono e a sensação de inexistência como um todo se tornam ainda maiores. É lindo esse mundo. Como ele tem tudo, frequentemente é possível correr num campo bem grande, verde, de grama, cheio de pequenas montanhas, grandes, verdes, macias de deitar, com flores esporádicas de tão bonitas que são. É possível também, se essa for a vontade do habitante, apenas observar esse mundo de uma janela, colada a uma parede amarela-marrom, cor de madeira clara, como se se estivesse com a cabeça enfiada num quadro. Nesse mundo, não tem tempo, apesar de ter a surpresa com o dia que já nasce, com o canto das aves (tanto galos quanto passarinhos) e até comentários sobre as horas e os compromissos - vazios, pelo hábito de quem esquece que o tempo lá não existe. Nesse mundo, não existe fome, porque fome que não incomoda não é fome, mas existe todo o prazer em  preparar a comida e mais do que isso em comer. Existem beijos e abraços infinitos e eternos, que se tornam cada vez melhores, de um modo que os próprios habitantes costumam estranhar que aquilo tudo apenas melhore e que pareça agora que têm uma cola na boca e no corpo inteiro que é responsável por esse admirável fato. As músicas, mesmo as mais feias, são as mais bonitas, e as risadas estão sempre à beira de um colorido abismo, prontas a se lançarem umas contra as outras, entrelaçando-se num canto, num coro, numa canção. Os cheiros, sobretudo o do suor, alimentam os pulmões, são capazes de regenerá-los; os olhares flúem e, quando cruzados, um experimenta olhar com o olhar do outro, o outro faz o mesmo com o um que experimenta olhar com o olhar do outro: os olhares lá são crianças, voltam a ser o que são. Todos são jovens, principalmente os velhos. Todos são velhos, em especial os jovens. Todos são tudo, tanto quanto coisa nenhuma. A Lua sempre nunca esteve mais bela. Nesse mundo, onde não existe nada, além de nós dois.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Entender a relação entre

a couve-flor parecer um cérebro e a identificação entre suas partes e seu todo.
Acabou.
Esse dia torto, troncho, tosco
Esse dia marginal.
Dia café-com-leite, dia menino que não deixam brincar
nem falar
dia mudo.
Esse dia feito de nadas, de cantos, de sobras
que vinha sendo decomposto há três anos
que ninguém sabe se existe, o porquê
Acabou
O não dia mais bonito do ano.
rompeu, gritou,
mudo
escancarou a falha de tudo
o pequeno ponto de desvio de sujeira de verdade
como uma pena arromba o castelo
já é março.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

sábado, 25 de fevereiro de 2012

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Para um estado
jamais há outro:
cada momento
é tão eterno
quanto passageiro.

para a dor
não há alegria
para o ódio
nenhum amor
ou morte
ou vida.
toda emoção
nos encerra
cerca
cega
dentro,
porque nos é
- e nós lhe somos.

a parte
toma o lugar do todo
e as coisas
não sobrevivem
aos momentos.

é assim
que toda morte
cria
vida
que o amor
é parteiro do ódio
e que a dor
é a semente do prazer.

não fosse assim,
nada.
não:
uma merda predefinida.
pode repetir esta porra cem vezes!
não adianta.
cada momento continuará tão radicalmente eterno
quanto somos
passageiros.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

A escrita, mesmo que na forma de uma simples anotação, abre espaço para novas criações.
É que as idéias que atravessam braços, dedos, canetas para chegar até o papel já não ocupam o lugar que antes ocupavam em nós: o lugar das idéias novas, que nunca permanece vazio.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

o tem
po
uco
temp
oco
tempo.

tempo é palavra poeira. palavra vento. palavra desfeita, defeita, que só é quando já foi, só é o que deixou. O tempo é tudo o que deixou. Ausência. campo de pedra sem ninguém pra sentir o cheiro da folha seca no chão. 

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

retos e oblíquos.

eutu
mete.
Não interrompa
a ruptura;
que sangre.

Não estanque,
o fluido;
mas deixe
que a veia vaze até vazia.
Deixe
-se,
esvaziar:
seque.

Deixe ir cor
ação
A vida precisa de cor
ação.
Deixe ir vida:
morra
o que puder.

Existe
um custo
exige
fonte
seja.
Tudo.

Até que 
morto
criado
dado
vida.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Não ter vergonha de dizer que, sempre que aquilo acontece, sempre que aquela compressão realiza sua usual abordagem, como sempre que essa espécie de, não é um ser, possui uma cabeça entre suas mãos para esmagá-la e retirar dela aquilo de que se alimenta, miolos, resquícios de estrutura, realidade, pequenos grãos de algo que se podia chamar de lucidez, a única solução possível é buscar imediatamente uma fuga, por mais que o desejo seja de enfrentá-la, de agarrar aquelas mãos verdes, de unhas longas, cheias de veias que quase transbordam o líquido cinza, algo como um sangue mas seu contrário, e sacodir a cabeça como um louco, com um desespero tal que corresponde à tentativa mesma de arrancá-la dali, a cabeça, somente através desse movimento súbito e convulsivo, e aí, e aí, sim, é possível ver porque não, porque é isso que ela quer, mais, é do que precisa, se alimenta, se vive, é a partir dessa resposta que ela mesma provoca que ela consegue extrair aquilo de que se nutre, como se o movimento da cabeça e  o terror que alcança a ponta dos dedos espalhassem pelo ar pequenos grânulos que ela suga, ou mesmo respira, como se o leão se alimentasse da adrenalina da zebra, quanto mais a atiçasse, mais alimento teria, sendo essa consciência, a consciência aparente disso, o que permite não ter  vergonha, de dizer, que sempre, o importante é encontrar como faz o rato, aquela pequena fresta, não precisa ser naquele mesmo formato, aquele formato idealizado de frestas de ratos que sabemos qual é, o importante é não oferecer a essa espécie de não ser a resistência de que se alimenta e escapar através de algo que parece muito menor do que aquele monstro e aquela luta, derrotar o gigante

domingo, 29 de janeiro de 2012

Cisne Negro, Astrologia e Psicanálise: O superego e o Id, Saturno e Plutão, Capricórnio e Escorpião: uma especulação. 

Isso não é um texto científico, não é um texto nada, é apenas um texto (se fosse necessário um adjetivo, o que não é o caso, talvez especulativo fosse o mais apropriado). Não possuo conhecimentos profundos sobre psicanálise, de astrologia sei alguma coisa, o filme é muito bom. A questão aqui é juntar os pedaços que compõem o presente, um presente que, é verdade, é meu, ao mesmo tempo em que se intersecciona com um presente maior, do que eu. Assim, parto de mim.

Por uma série de razões, me vi cada vez mais dentro (sim, mais dentro) de uma esfera psicologicizante, de um universo repleto de elementos ligados à mente, mas sobretudo ao inconsciente. É isso, vejo que tenho me movimentado caoticamente em um mundo do inconsciente. Expressões mais ou menos claras disso – expressões que dialeticamente reforçam o impulso, porque se trata de um impulso – são o contato com a obra de Bergman, a leitura de Freud, memórias infantis, mas, enfim, são só expressões: expressões que têm desencadeado impressões, impressões profundas, como uma tensão ou uma inquietação sobre o inconsciente e as relações que ele estabelece com a consciência. É claro, também o Cisne Negro, para além de Bergman, mas apoiado nele, claramente.

Agora vejo, após ter assistido ao filme, que não faltam análises sobre o Cisne Negro em sua relação com as reflexões sobre o superego, o ego, o id. É, de fato, uma associação óbvia, o que não a empobrece. É muito interessante a forma como o conflito superego-id é tratado no filme. O cisne branco, o controle, a disciplina, o trabalho, a interdição; o cisne negro, a pulsão, a entrega, a paixão, instinto. A personagem central está, de fato, no centro desse conflito. Seu superego, hipertrofiado pelas exigências da mãe e do mundo exterior por sucesso, correção, perfeição, governa todo e qualquer ato seu. Ela é inteiramente controlada por essa força, que não lhe permite jamais relaxar; que, enfim, lhe maquinifica. Contudo, sua arte, o balé, pressiona por leveza, entrega, paixão. Sensualidade. Afinal, e aqui há uma completa coerência psicanalítica, a energia psicolibidinal de Nina está como retida, seu superego a enjaula. Seu professor e sua rival (que disputa com Nina o papel principal na peça intitulada “O Lago do Cisne”) representam exatamente essa exigência: os imperativos do id. Nina percebe isso; percebe que, no fundo, só terá o sucesso que seu ideal de ego, seu superego ambiciona, se conseguir, exatamente, libertar-se dele, relaxando e entregando-se. A afirmação do superego, portanto, depende da sua negação. Não é à toa que Nina surta, portanto. Aqui é feita uma boa análise, em que muito que eu precisaria dizer já está dito:

(É estranho o apontamento de que Nina não tem um ego, feito pelo autor do texto. Acredito que seu ego, de fato, esteja brutalmente diferenciado em um superego e, assim, a ele subordinado; e que o processo de formação de sua individualidade é frágil e problemático. Contudo, “a ausência do ego” parece um exagero.)

Esse dois conjuntos confrontados, sua dialética: cisne branco – cisne negro; superego – id; controle – entrega; sexo – castidade ou sexo – amor ideal; repressão – subversão; razão – emoção; instinto – premeditação; esses dois conjuntos em tensão podem ser apresentados de modo diverso, e assim o foram e o são (provavelmente o serão por algum tempo ainda) ao longo da História, mas têm uma mesma raiz. Essa polaridade guarda, em meio a essas diversas manifestações, uma fonte comum. Os termos (repressão-subversão, por exemplo) são expressões diferentes, enfocando diferentes aspectos de uma mesma coisa. O que seria a energia primária? Seria a forma mais abstrata e geral de representar esses dois conjuntos. Talvez razão-emoção? Talvez terra-água, se tomarmos os elementos primitivos considerados pela Astrologia. Entremos na Astrologia, então.

Água é precisamente emoção, sentimento, dissolução; enquanto Terra, razão, controle, limite. É verdade que, quando penetramos nos signos, teremos algumas nuances a observar. Touro é Terra, mas apresenta certa ênfase sobre a sensorialidade, é verdade; no Fogo, há muito de impulso; mas, de modo geral, é possível fazer esse enquadramento e encarar os conjuntos em tensionamento enquanto terra-água.

Contudo, se tomarmos essa premissa e retornarmos aos signos, temos a seguinte questão. A energia de contenção, trabalho, disciplina e racionalidade se aproxima bastante das energias de Virgem e Capricórnio. Contudo, a ambição da personagem reforça uma caracterização capricorniana, mais do que virginiana (em Virgem, a subserviência e a utilidade pesam mais do que o poder e a necessidade de ascensão). Assim, se tentarmos estabelecer a mesma relação em termos de signo, já encontraríamos, por um lado, em terra, a simbologia de Capricórnio – acompanhada de seu planeta regente, Saturno, e da casa X, representantes dessa mesma energia. Esse seria, portanto, o cisne branco.

E pelo outro lado, “água”? Durante o filme, é enfatizada, sob a caractetização do cisne negro, a dimensão da sexualidade, da entrega, da profundidade, dos instintos. Poderia ser estabelecida a relação com Escorpião, de Água, mas também Áries, do elemento Fogo, é verdade. É que as energias de Áries e Escorpião se cruzam, a ponto de Marte, regente de Áries, desempenhar também o papel de regente noturno de Escorpião. Contudo, parece-nos mais apropriada a intersecção com a energia escorpiniana. Com Áries, encontraríamos uma dimensão de comando e de intelecto acentuadas; a entrega também estaria presente, o que não seria diferente com Escorpião. Mas a ênfase sobre a sexualidade, sobre o oculto, e sobre a própria dimensão do inconsciente, da crise, daquilo que pulsa e emerge e arranca: esses são elementos escorpinianos; o cisne negro.

Quando se fala em Astrologia, pode-se pensar desde logo que estamos querendo discutir a partir de uma abordagem metafísica, mas, antes e por enquanto, evitemos essa polêmica. Como dissemos, energias com que os seres humanos têm lidado têm sido tratadas por eles através de muitas formas, de diversos símbolos. Tratemos, então, até aqui, a Astrologia sob esse ponto de vista... Para, no entanto, desconfiar dele a partir do próximo parágrafo. Falo em “desconfiar”, porque este momento, esta pequena morte, no sentido reelaborador escorpiniano, tem colocado muitas convicções em cheque. E a astrologia consistia já, mesmo, numa espécie de convicção. Agora, quem sabe? Um materialismo cru, talvez? Um possível abandono. Não é casual, portanto, tanta especulação. Especulemos, pois.

Saturno, neste momento, encontra-se a pouquíssimos graus do signo de Escorpião. Plutão, regente de Escorpião, encontra-se em Capricórnio. Veja: Saturno, regente de Capricórnio, penetra em Escorpião; Plutão, regente de Escorpião, atua sobre Capricórnio. Não é difícil perceber que há um mutualismo. Cada planeta encontra-se no signo regido pelo outro. As ligações desenham um X. A esse fenômeno, chamamos de dupla regência. A interação entre as energias é, assim, reforçada. Mas o que seria o produto dessa interação?

Precisamente esse tensionamento entre superego e id; entre a pulsão, o desejo; e o limite, a repressão, o controle. Por algum tempo, estaremos, do ponto de vista da Astrologia e da observação dos trânsitos astrológicos, imersos nessas tensões. O produto – genérico – é este conflito. Ele estará expresso em termos sociais, ou seja, em termos de formas de organização social e dos conflitos sociais. O superego como limite; o id como pulsão e desejo social.  A resultante provável disso é um acirramento da luta entre as polaridades direita-esquerda, conservação-mudança, repressão-libertação. O produto, o efeito sobre cada indivído será produzido com maior ou menor intensidade a partir das condições e a partir do mapa astral natal de cada um. Com certeza aqueles que têm ênfase em seu mapa sobre Capricórnio e Escorpião serão atingidos de modo mais direto e profundo. A síntese que cada um produzirá depende de seu ponto de partida (do ponto onde se encontra ao enfrentar esse trânsito, o qual não é um ponto zero, mas um ponto determinado pelo precipitado de respostas produzidas ao longo das experiências anteriores), das experiências que surgirão e das respostas oferecidas. Mas o tema é o mesmo. O enfrentamento entre as exigências sociais e os desejos pessoais; o choque entre o que não é nosso e o que é nosso, operando-se dentro de nós mesmos, é também produto dessa combinação. Isso também oferece importante lugar às críticas e a nossa sensibilidade, a forma como a ela reagimos. A auto-crítica e o modo como a realizamos também terá centralidade.

Quanto ao desafio: Plutão e Saturno, Escorpião e Capricórnio, representam energias pesadas, tensas, de transformação. Saturno representa os limites para que, através dele, o amadurecimento possa surgir; Plutão traz as crises, em que o velho morre para que o novo venha à tona. Isso quer dizer que ambas são energias de trauma, tendem a colocar-nos diante dos pontos cármicos fundamentais. Contudo, não há “maldade” nisso, mas um processo: em que o trauma desorganiza para organizar, o caos tende a um reordenamento. Portanto, um reequilíbrio – um rearranjo – entre desejo e limite, pulsão e controle, superego e id é o ponto para o qual aponta o sentido da tensão. Para alguns, isso poderá significar a necessidade de um maior relaxamento, menos controle; para outros, o inverso. Ou seja, não há resposta universal, apenas um problema universal, que terá de ser resolvido numa interação em que indivíduo e sociedade são inseparáveis.   

Deixando claro, vejo, especulativamente, minha experiência pessoal (que conta com elementos meus, mas também observados por mim, mas que operam fora de mim) intimamente ligada a esse momento mais amplo. Freud, Bergman, memórias, o Cisne Negro e a dupla regência, portanto, são, assim, todos parte de uma coisa só. Como diria Guimarães, eu de quase nada não sei. Mas desconfio de muita coisa. É isso.



sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

É como se fosse; é uma casca. Branca, com traços pretos. Calcário, e o que lhe move é vontade; o que lhe move é dolorosa necessidade de; quebrar; de; destruir; a maldita; casca sagrada.

Seria o caso de lhe perguntar, o que há por trás, depois, dentro, o reverso da casca?; não é; o caso. Não me pergunto. Sou  simplesmente movido pela necessidade, de quebrar, destruir; de fazer nascer, um porco, um anjo, um coração-gema; de fazer que gema; da casca, do ovo, de ti.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Calma:

Que Urano está apenas começando seu trabalho sobre Áries...
Que ainda vem a quadratura, a dupla regência, com muito Plutão-Escorpião, Saturno-Capricórnio...
Que Netuno estará à vontade...
Portanto:
Calma...
Enquanto ela é
mesmo que miseravelmente
possível...

Susto

não é susto.
é instinto.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

(...)

Com a virtualização das relações, ninguém mais fala sozinho: todos falam sozinhos.
Até que a ideia possa ser apalpada.
O objetivo disso é o apalpamento da ideia.
Viver
mais do que isso
e mais do que ser
é ser
composto.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Sobre nossa relação com as portas.

Não é à toa que cada porta tem sua fisionomia - mesmo que a maioria delas guarde traços comuns ao de uma velha senhora, se atentarmos ao trinco. A crença (sim, uma crença seca, um pressuposto sem qualquer base racional) de que as portas representam o que há de mais inanimado, ou menos animado, crença essa presente em diversos ditos populares, não é apenas falsa, mas também mentirosa, enganadora e equivocada e má. O que está em curso é um processo - que carrega uma intencionalidade - de desumanização sistemática das portas. Quando uma pessoa reivindica um tratamento justo legitimando a barbárie para com as portas - como se elas fossem feitas de madeira ou algo que o valha - não se trata de outra coisa. Com as portas, vale tudo. E elas sofrem: quando há brigas, seja em casa ou nóutro ambiente, em qualquer tumulto, são arrombadas ou lançadas violentamente contra seu ponto de repouso. Isso quando jamais foi comprovado que uma porta tenha cometido qualquer ato violento (ou de qualquer outra natureza) contra um homem, uma mulher, ou mesmo contra animais de estimação, de rebanho ou silvestres (sejam eles mamíferos, aves, répteis, anfíbios ou peixes). A polêmica com relação ao caso da Porta Satânica demonstra-se, hoje, finalmente, vazia por completo. Nunca foi comprovada sua participação no assassinato das crianças polonesas; contudo, como se sabe, a porta foi sumariamente cerrada e seus pedaços incendiados, sem que lhe fosse concedido qualquer direito à defesa. 

O que parecemos não conseguir enxergar é o encantamento que existe por trás das portas, além de sua utilidade e a forma servil e honesta que assumem diante de nossas necessidades e de nossos desejos. Sempre se argumenta que as portas rebelam-se com frequência (é dessa forma que os homens percebem o enguiçamento, o emperramento, o engolimento de pedaços de chave); não conseguimos nos dar conta de que isso é apenas uma resposta - e sempre é esta a interpretação correta - das portas às nossas faltas para com elas. Temos trabalhado em projetos que buscam substituir as portas por outros instrumentos, outros mecanismos. E todos esses empreendimentos falharam! Será isso à toa? Somos incapazes de realizar a auto-crítica?

Precisamos aprender a nos relacionar com nossas irmãs. Não insultá-las, agredí-las - já conhecemos sua sensibilidade; compreender a forma como cada indivíduo-porta gosta de ser tratado - cada porta tem preferências quanto ao modo de ser aberta, fechada, batida, enfim, tocada de modo geral. São medidas tão pequenas e simples quanto necessárias e urgentes. Mas isso tudo só será possível a partir do momento em que nos abrirmos para reconhecer que são as portas que nos revelam os novos ambientes, que nos permitem transitar, conhecer, aprofundar nossas experiências. Quando nos dermos conta, de uma vez por todas, que sem as portas, estaríamos todos presos... aliás, não. Se não houvesse portas, não haveria nada, estaríamos todos livres, é verdade. Hum, é verdade.
Anotar na agenda, pra não esquecer de resolver na próxima encarnação.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012