terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

São anotações de outono já. São anotações de março, quase abril: o mais cruel dos meses. São anotações do que eu não sei ainda. Me ocorre aquela mulher, que me chamou de Zé, me pediu para colocar o saco nas costas daquela que a acompanhava – e o menino. Me ocorre estar numa casa com áries, touro, gêmeos e câncer – e que, se Méri for de leão e Beto aparecer por aqui quando Flávio estiver, já teremos meio zodíaco. Me ocorre que eu estaria muito bem numa casa com o zodíaco inteiro, como as vozes do dodecaedro. Me ocorre o bicho-preguiça, e suas garras, hoje, em pleno campus universitário, suas semelhanças com gente, comigo; me ocorrem as palavras que devo buscar no dicionário, me ocorre, sobretudo, o sofrimento – a espécie de –, sofrimento amoroso mergulhado numa crise inexistencial que me abordou e me invadiu naquela fome. Talvez nunca tenha estado ou sido tão confuso: eu. Talvez escrever com as páginas de trás pra frente me renda alguma idéia; talvez ela esteja certa e eu não sinta, talvez uma Lua em Virgem, talvez Marte e os nódulos lunares em Áries e Libra. Talvez eu esteja ficando louco. Talvez um universo paralelo, sem ar, em que eu tenha mergulhado e, quando me vi de fora, aquilo tudo era outra coisa. Não há nada tão bonito quanto a fumaça agora. Talvez eu esteja em outro lugar? Talvez. Talvez uma contundência maior, uma predisposição à guerra, talvez um desejo profundo e vício em dominar; talvez um respirar fundo, talvez um transcender tudo, talvez uma meditação e uma compreensão do mais alto grau. Talvez essa grande abstração, esse precipício, esse quarto fechado que eu sou em que eu me tranco e onde tudo parece ser o mesmo, nada parece conter diferença real. Talvez seja tudo a mesma coisa, talvez essa pureza, talvez essa pureza seja tão podre quanto o mais sujo: o puro falando do mal-lavado: eu acho que sou puro, eu sou o mal-lavado. Talvez a indignação não queira dizer nada, não diga nada, indignada; talvez uma grande besteira naquela cabeça atordoada, que acha que alguma coisa faz alguma diferença; quando nada faz: talvez faça: talvez ela esteja certa: talvez eu esteja: talvez seja mesmo uma conversa: talvez eu mereça mesmo ser ferido para aprender que não há talvez: talvez eu não sinta. Talvez as coisas não passem mesmo dessa camada amarelada que a gente chama (que a gente chama do quê?), essa camada amarelada, tosca, em que as pessoas vêem tanta coisa, tanta complicação, tanta diferença; é só uma casca amarelada. Talvez não haja interior; talvez não se trate de medo, ou dor; talvez eu sofra por querer viver também na casca bege, por gostar das pessoas que gostam dela; talvez as pessoas não tenham mesmo culpa. Talvez devam ser condenadas por isso. Talvez eu nunca tenha percebido – de novo – o quanto eu estou sendo errado; talvez eu seja mesmo politicamente correto, e elas devam todas morrer; talvez eu sou louco; talvez o ponto e vírgula não transmita o que eu quero dizer; talvez eu não diga o que eu quero dizer; talvez eu não queira dizer o que eu digo; talvez eu não queira. 

O mundo parece grande.

Só que é maior.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

A diferença do d pro t
é o parafuso mais acochado
 (ou frouxo)
e dos passos
pros pássaros
só ar.
Céu rosnou alto.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

A lua pode estar meio cheia ou meio vazia.
Depende de como você vê a vida.
Cú é melhor com acento.
Tem mais força e dá pra descansar um pouco.

Pera, eu vou ali, resolver um negócio...

Pera!, eu vou ali no Beleléu e volto já....









Olha só, que interessante.
A palavra "beleléu" tem sua origem no idioma banto e significa cemitério.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Despsidescodestecdesnodeslodesgia

Não faz muito tempo
(só anos)
re-provei
no ex ame
- aquele:
psico técnico:
graças a Deus.

Testaram
e comprovaram
toda minha
canhotice
(o lado esquerdo pensa menos)
desperspicácia
(concentrada no desnecessário)
porra-louquice
abençoada
(eu sei,
não é pra tanto.

mas deixe eu ser feliz
só por enquanto:

a vida inteira

me pre-parei.
deixe eu 
comemorar
minha
des psico
des
tecno
deslogia):
eu passei!
fui finalmente
desreconhecido
e
isso é pouco





o suficiente.

a ciência
me concorda
:osseva olep
meu despsico
não tem fio
cabo
nem botão
eu
nem fio
nem cabo
nem botão
eu
proibido
de lata
máquina
produção

ainda bem,
meu Deus,
o teste deu
sou doido.

ainda bem,
doutor,
o teste deu
resisto.
e
, resistentemente,
continuo sendo
gente.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Nunca disse que só falo besteira

Sou modesto.
Depois de caju com amendoim e coentro com passas, deve-se partir para rapadura com poesia. É melhor, porque mais confuso. Não se sabe se se lê rapadura ou se se come letras; não se sabe ao certo. Se olho baba mastiga vomita; se boca chora vê lê. Não se sabe se essa lágrima é saliva, quer dizer, se essa saliva é lágrima; Não se sabe se essa língua que sai do seu olho é sua pupila, ou se essa pupila na sua língua é meu olho; não se sabe ao certo; se meus dentescílios realmente mordempiscam; se sou mesmo ciclope bistômico. Se seu olhar fala. Sabe-se, não; não ao certo. Eu me engasguei com cisco? Se tu oftalmobeija. 
Essa palavra doce; a bomba crocante e antilírica.
Grande merda e daí. Calma, deixa eu pôr meus óculos.