segunda-feira, 13 de junho de 2011

Se alguém me perguntar porque eu não vou saber responder. E se alguém me perguntar porque eu não sei responder, eu não vou saber responder, o que é pior. É estranho isso, dizer que você não vai saber responder, se você já não sabe, né? Não é futuro, é presente. Também. É verdade. Eu também acho, penso nisso constantemente. Por que tu acha que é pior não saber responder porque tu não sabe responder do que simplesmente não saber responder? Hum, eu entendo porque tu fez essa pergunta. Por quê? Por que eu entendo? Não, porque eu fiz. E porque tu entende também. Tu fez a pergunta porque tu acha que essa resposta pode abrir uma série de feixes, ou então um leque, feixes é melhor, de coisas sobre mim e sobre a vida, e que daí a gente pode tirar uma conversa profunda, mesmo que nem venha a ser tão longa, sobre essa coisa de nós e a vida. Num foi? Foi. É como se não fosse uma pergunta que busca a sua própria resposta objetiva, ela é só uma pergunta-porta, ela serve pra acessar esse assunto que é tudo, ou o todo, o todo é melhor; não, não, é melhor tudo agora. eu também acho melhor tudo, nesse caso. E em que outros casos não seria? A coisa da dialética. Ah. Certo, não seria o termo mais apropriado. Urrum. ... Hum. Mas por que tu entende? Entendo o quê? Porque eu fiz a pergunta. Qual? Sobre ser pior não saber o porquê de não saber responder. Ah, porque eu sei. Tu entende porque tu sabe? É, como se fosse isso, eu entendo porque eu sei e sei porque eu vivo. Hum, gostei disso. Foi. Por quê? Não sei, soou bem, e tu falou de modo bem despretensiosamente natural, o olhar também foi bonito, bonito, não, assim, coerente, apropriado, igual ao tudo, igual ao todo; e foi bonito também, é verdade, o olhar também, tanto é que foi apropriado ao que tu falou que também foi bonito, então faz muito sentido que ele tenha sido bonito também, né. Sabe, eu tenho sentido dificuldade em viajar enquanto eu falo às vezes. É? Viajar enquanto se fala pra mim é aquilo de se sentir meio que passeando no pensamento enquanto a voz em formato de palavras vai saindo e aí as ideias vão vindo e tudo vai parecendo e sendo um jogo, esse jogo. Foi bom que eu fiz enquanto descrevia, foi forma e conteúdo. Foi isso que tu quer dizer? Foi, acho que foi... Hum. Só acha, né. É, mas deve ser. Urrum. ... E aí a dificuldade é que falar tem parecido mais um trabalho, um esforço, do que uma viagem, parece falta de energia. Tua glicose é baixa? Ninguém viaja sem glicose, não. Pode ser, mas é que o tempo de jejum antes do exame foi muito alto. E foi pouca a diferença. Hum, certo, mas por que é pior?, eu quero saber disso. O que é pior?, ter mais trabalho do que viagem? Porque você se sente esgotado, é como beber água de um rio seco e sentir só aquela pedra na boca cortando, não, porque é pior não saber responder porque não se sabe responder porque se alguém perguntar do que não saber responder porque se alguém perguntar. Ah, sim, achei que esse assunto já tinha morrido. Oxe, por quê?, se eu tava direto falando nisso. Porque eu achava que a porta já tinha se aberto, então num tinha mais porque ter essa pergunta-porta, ela pode ser uma pergunta-trinco também, né, porque ela ajuda a abrir a porta, você usa ela pra abrir, ela pode ser muitas coisas, essa pergunta-gênero-de-perguntas. Será que a gente podia agrupar as perguntas todas em famílias?, em grandes famílias de perguntas? Perguntas-trinco. Perguntas. Que mais. Perguntas-faca. É, perguntas-faca. Perguntas-... eu queria saber, mesmo a porta estando aberta. Então, ela não era só uma pergunta-porta-trinco-chave, ela era pra ti objetiva, era uma pergunta-faca? Não. Acho que era uma pergunta-porta-trinco-chave, mas também; também o quê? Também ela um objeto, não só meio, mas fim. Ela era as duas coisas. Huuum... ... ... ... É muito mais grave. Se você não sabe nem responder porque você não sabe responder, é sinal de autodesconhecimento profundo. Um autodesconhecimento profundo é coisa tão louca, né, porque se é profundo tende a ser conhecimento e não des-, é verdade. Você pode não saber responder algo e entender o seu processo de não-sabimento. E aí aquilo tá se processando em você, e você tem ideia de que aquilo ainda é verde, mas tem pista. Se você não sabe responder porque não sabe responder porquê, você parece não ter ideia nem de onde aquilo tá em você, o que pode ser muito bom. Mas num era pior? Era, já não é mais, é que eu tinha usado pior no sentido tradicional de que saber menos significa ser pior, e não é?, não, porque aquilo reflete uma condição sua e mostra uma ausência que vai ter que ser coisada, como é o nome, acho que desenvolvida. Mostra uma insuficiência e um pra-onde. Porque mesmo que você não saiba o porquê nem o porquê de não saber o porquê, e se sinta filhadaputamente perdido naquela hora, aquele momento vai abrir um processo em que aquilo vai aos poucos poder se revelar, foi a primeira pontada, a primeira visualização, uma espiada da porta que tá longe, mas agora tá. Antes nem. Eu não acho. Não acha a porta? Não, acho que não. Ah, sim. Tranquilo, é uma coisa que eu uso pra mim. Não, tu falando fica como se fosse uma formulação geral, uma coisa universal. Hum, é verdade. ... ... Diz como é pra ti, então. Não sei, não sei dizer. E acho que isso já é minha própria resposta. Meu irmão, isso foi muito profundo, tu num achou, ou sentiu? Hum, não sei, Minha nossa! ... ... Mudar dá trabalho, né, agora que tu colocou em cheque, eu fiquei repensando, e eu, eu achava que essa idéia nunca ia mudar em mim, ideia com acento ou sem acento, era como uma poltrona, com assento, então, onde eu tinha me acomodado, bem grande e gorda, com os pés pra cima, igual à que tinha na casa dos meus tios, no quarto deles onde tinha aquele cheiro de ar-condicionado com cigarro que eu gostava, ainda gosto dos embates do cigarro, com chuva, com ar-condicionado, com frio, o cigarro buscando equilibrar mesmo ele sendo tão des, o escroto. Preguiça de mudar é preguiça monstra, eu acho. Ter que se levantar dessa poltrona e desse cheiro de ar-condicionado com cigarro e desse desenho animado na tevê que é uma bosta mas o que vale é a poltrona, pra sair do quarto, da casa, da rua, do mundo e procurar outro mundo, construir ele inteiro, ser praticamente o chefe e o deus daquela gente toda nova que vai morar ali, é mais trabalho do que viagem. Tu não acha? Não sei. Por que agora tu só fala não sei? Não falo, foi só essa vez que eu fiz pra testar se tu ia dizer que era profundo de novo. PFFFFFFF. HAHAHA! Sacana. Eu sou. Às vezes. Às vezes. Faço. as vezes. De sacana. Eu gosto dessa relação com o “às vezes”, lembro quando pensei isso a primeira vez, tu tá dizendo isso só pra comprovar que tu já pensou isso um dia e que o que eu falei agora não foi propriamente uma invenção? Não, por quê? Pareceu. E acho que tu faz isso às vezes. Essas vezes. Talvez. Boa. Tu num acha toda conversa parecida com uma competição? Mais ou menos... Tu num acha tudo parecido com uma competição? Não, se eu achasse isso eu já tava doida. Hum. Tu acha, é? Mais ou menos. Mais ou menos o mundo todo uma competição? É. Minha nossa. E como tu sobrevive? Mudando. Mas no fundo é. Hum. Eu entendo isso astrologicamente em ti. Eu também. É. Eu também tenho minhas coisas, relaxe. Me mande relaxar, não, que é como se. Oi? Como se? Nada. ... ... Hum. 

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