domingo, 8 de maio de 2011

O que é o tempo

De por aí...
 
Sobre a concepção indígena do tempo, na obra "Quapaq Ñan: La Ruta Inka de Sabiduría", o pesquisador peruano Javier Lajo relata como lhe foi ensinado por seu próprio pai, do povo indígena puquina, que o cosmos se assemelha às ondas ou círculos concêntricos perfeitos desenhados sobre águas translúcidas de um tanque quando nelas se atira uma pedra, por esse artifício pedagógico, seu pai lhe demonstrou a “Lei Geral do Movimento e do Tempo”.

No modelo ou paradigma indígena, a repetição, retorno ou alternância de situações é um fenômeno “natural”, assim como o são todos os demais ciclos da natureza: o dia e a noite, as estações do ano solar, as fases da lua, períodos de seca e de chuvas e o ciclo menstrual da mulher. Além de se encaixar no modelo cíclico de tempo, este elemento revela outra curiosa percepção temporal dos povos andinos, novamente, contrário à visão ocidental, a tradição andina “enxerga” o passado à frente e o futuro às suas costas.

Para compreender este extravagante paradigma (ao menos aos olhos ocidentais), devemos recorrer às principais línguas nativas andinas, o quetchua e o aimara, pois elas revelam a curiosa relação entre passado e futuro para esses povos. Nessas línguas os termos que se referem ao passado, nayrapacha, ñawpa e ñawpaq, possuem sua raiz etimológica nayra e ñawi (aimara e quetchua respectivamente), que significa olhos. Portanto o que se vê “adiante” é o passado.

Já o vocábulo quepa/quipa (aimara e quetchua), que significa “costas” é usado para descrever o futuro. O poético ensinamento disso é que enquanto não conhecemos o futuro (ele está às nossas costas), o passado apresenta o exemplo dos antepassados, o histórico de milênios de sábia adaptação do ser humano à realidade de uma natureza desafiadora, como é a paisagem andina. Para a tradição andina o futuro está “para atrás” e o passado “adiante”.

Para um runa kuna, ou ser humano membro de um ayllu, a história seria uma repetição cíclica de um processo orgânico, correspondente à ordem cósmica e sua relacionalidade.

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