quinta-feira, 28 de julho de 2011

Ele se aproximou; esteve mais próximo do que costumava estar. Em geral, mantinha-se a dois palmos, de mim, sob minha medida, tenho as mãos relativamente grandes, apesar de me referir aos pés, e à distância mantida por eles; já o rosto, o rosto geralmente entre dois e três palmos; dois palmos e meio. Agora, muito menos, a distância, digital, resumia-se a dedos, mindinhos, nenhuns, a distância era nula, tendia a zero, não havia: os olhos também, e a essa altura, e a essa distância, eu já havia percebido. Quando ele estava a dois palmos e meio de mim, os olhos, e agora era diferente, os olhos estavam sempre a mais, braços inteiros, corpos, quem sabe quilômetros de corpos enfileirados num grande cemitério clandestino, decomponha, onde os olhos dele se alimentavam de cadáveres se nutrindo e se enchendo daquela melancolia água, hidromelancolia da qual costumavam estar repletos. Quando ele me disse o que havia dito que queria dizer, quando ele finalmente Disse, o que ele me disse que havia dito que queria dizer era poesia à queima-roupa que me enterrou, me mergulhou naquela melancolia de água roxa, grossa, onde ele não vivia incubado com aqueles olhos espessos de coveiro e pá. Antes que me afogasse, inspirasse mais terra, ele conseguia ser assim água e terra-lama, recuei, dois palmos e meio, na medida das minhas mãos horrorosamente grandes, suaves, amorfas, mas vivas.

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