quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A aliança é o compromisso, a responsabilidade, a disciplina. A aliança é Saturno, a aliança são seus anéis. Não sou eu quem digo isso. Aliás, digo, e escrevo também, mas não sou eu quem invento. Isto já está dito por aí, por muitos, em muitos lugares.

Saturno simboliza exatamente este comprometimento que se assume. Saturno é karma. É aquilo que precisa ser trabalhado, desenvolvido, a partir do esforço, do sacrifício, da dor; Saturno é dever. Mas não só.

O anel de tucum é saturnino. Porque é peso, é dor, é luta. É responsabilidade. É compromisso, e é peso, sim. Não há como negar: é, sim, tudo isso: também. E é paixão. É também paixão, porque Saturno é também o que se alcança. É também o fruto colhido a partir do sofrido reconhecimento dos próprios limites, e a partir, também, do rasgar desta membrana, do eclodir desta casca. O anel se rompe. Novos anéis aparecem. Sem fim. Como tetos. Como quem sobe andar por andar destruindo o concreto quando o sente sobre a cabeça, em seu papel, limitando. A expansão exige o reconhecimento de que somos pequenos, de que somos menores do que gostaríamos ou do que aquilo que pode(ría)mos ser. Para crescer, é necessário saber que há para onde crescer, que não somos tão grandes assim: formigas. É isto: condição.

O anel de tucum, pequeno, leve, é, na verdade, tonelada. De sonhos, de tarefas; de poesia, de medo; de utopia, de dor. É tudo um grande parto que se opera em nós mesmos, é quando nos damos à luz. É preciso estar grávido; e fecundar-se... Imagine-se nascendo de si: as maiores transformações, as revoluções - nossas e do mundo - não vêm sem sangue, não surgem sem que a pele seja rasgada, sem que se ouça um grito. A flor está ali. Ao seu lado, o espinho. 

Espinhos da palmeira da Amazônia também, li em algum lugar. Palmeira de onde vem o anel, palmeira chamada tucum. É de uma palmeira cheia de espinhos que vem a beleza do anel. Como é difícil perceber a proximidade entre o que nós estamos tão acostumados a distanciar. É, tudo, uma coisa só. 

Meu anel de tucum rompeu-se. Não é o primeiro. Seria sinal de descaso meu? Seria um aviso para que eu parasse? Retrato de uma falsa aliança? Talvez otimista, penso que devo procurar pelo próximo anel, que - farei de tudo - hei de rasgar.

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